St. Lattier, 5 de janeiro de 1839.
Senhor superior:
Escrevo para vos dar conhecimento do adiantamento dos trabalhos da casa para os Irmãos que esperamos do vosso Instituto e para vos informar também das disposições favoráveis do Conselho e dos habitantes da comuna a vosso respeito.
O arcabouço da casa está acabado; falta apenas o aperfeiçoamento interior, de que nos ocuparemos no bom tempo, isto é, depois das geadas. Creio que, entre as casas que ocupais nas diversas dioceses, quiçá não tenhais nenhuma mais conveniente. Podeis julgar do que será pelo montante dos trabalhos de construção. Terminada, terá custado à comuna dezoito mil francos, em região em que a pedra e a areia estão à mão e em que a madeira das montanhas de Grenoble chega facilmente, porquanto o Isère corre a cem passos do local da casa. Foi construída expressamente para escola primária. Em posição a mais quente do departamento, como se pode julgar pela vegetação da primavera, porque em nenhum lugar chega mais cedo do que aí, segundo informam os viajantes; a casa é solitária, no meio do campo, a duzentos passos da igreja. A sua horta ficará no sul, em terreno propício, inclinado um pouco para o meridião, o que assegurará a facilidade da sua irrigação por meio de fonte abundante, que é pouco profunda e cuja água se haure por bomba, colocada aí desde o começo dos trabalhos. No sul e no poente fica o pátio de recreio, limitado por pequeno vale florestado, pertencente à casa. No norte haverá parque plantado de amoreiras e acácias. Servirá para o verão. Eis o que respeita à casa.
As disposições da comuna não são menos favoráveis para a vossa chegada no dia de Todos os Santos. Como o Pe. Douillet me dera esperança de que poderíamos ter recebido Irmãos já no ano passado, sempre assegurei às autoridades da comuna que os teremos pelo menos para a próxima festa de Todos os Santos. O sr. bispo, com quem falei no mês de setembro, disse-me ainda que, segundo a vossa resposta, poderíamos contar com certeza; eis por que não mostrei a vossa carta ao Conselho municipal; ela era desencorajadora, porquanto dizia que teríamos os Irmãos somente quando chegasse a nossa vez, sem determinar a época. Não a mostrei com medo de que se atrasassem os trabalhos da casa.
Assim, toda a comuna está na espera da vossa chegada no próximo dia de Todos os Santos, e tudo favorece a vossa vinda, mesmo as disposições do professor comunal. Há muito tempo a comuna tem dois professores, cada um com cinqüenta ou sessenta alunos; há, porém, dois anos que um novo professor, provindo da Escola Normal, conseguiu ganhar a confiança dos pais, de maneira que, neste ano, tem perto de cem alunos, enquanto o professor comunal só tem trinta, o que o decide a partir pela Páscoa, para não mais voltar. Assim, na vossa chegada, não haverá professor reconhecido pela comuna, porque o professor privado não é senão tolerado e, na primeira ordem, partirá; mas, se não vindes neste ano, a comuna será obrigada a conservar esse professor particular ou a tomar outro, e esses professores quererão fazer-se reconhecer e autorizar pela comuna; mais tarde seria muito difícil despachá-los, porquanto vós conheceis as disposições da lei.
O subprefeito departamental e a comissão superior do distrito foram informados da vossa chegada para o próximo dia de Todos os Santos. Todos mostram as melhores disposições para vos autorizar. Mais tarde não se sabe o que poderá acontecer. Assim, senhor, procurai aquiescer ao nosso pedido e dar-nos resposta afirmativa, a fim de que possa mostrá-la ao Conselho municipal, que ma solicita. Por ora nos contentamos com dois Irmãos, mas prevejo que, logo mais, precisaremos de três. O subprefeito departamental no-lo aconselha. Teríamos até os recursos para três, mas é a indenização de 400 francos para cada Irmão, em favor da Casa Mãe, que mais nos embaraça, porque a aquisição da mobília, das mesas e dos quadros nos imporão grandes despesas no primeiro ano.
Aceitai, senhor, a certeza da consideração muito atenciosa do vosso humilde servidor, HECTOR, vigário.
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Notas
Outra longa carta do Pe. Hector, de Saint-Lattier, que informa o adiantamento das obras de construção da escola e dos alojamentos dos Irmãos. No período intermediário entre esta carta e a anterior (Carta nº 159), o Bispo de Grenoble escreveu duas vezes ao Fundador, apoiando o pedido de Irmãos para Saint-Lattier (Cartas nº 161 e nº 163). O Pe. Hector não se deixou desencorajar pela resposta que o Ir. Francisco lhe tinha dado, em nome do Pe. Champagnat, dizendo: “O estabelecimento dos Irmãos em Saint-Lattier ocupa o 10º lugar na lista de espera e, portanto, precisa aguardar a vez de ser atendido”. Ele continuou com o mesmo estilo de redação da sua primeira carta: entusiasmo na descrição da casa, dos acertos com o Conselho Municipal e das perspectivas em termos de alunos.
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AFM 129.62