Carta de Pe. Barthelemy Artru a Marcelino Champagnat

Peaugres, 7 de setembro de 1835.

Senhor Superior:

Eis o histórico do estabelecimento dos Ir- mãos na minha paróquia. Diversas circunstâncias, que seria inútil descrever, fizeram-me esquecê-lo. Rogo-vos desculpar-me esta demora, um tanto longa e, também, por não sentir necessidade de expressar extensas escusas. Prefiro fazer-vos, com toda a presteza, breve e interessante histórico.

De há muito eu havia compreendido a necessidade de dar às crianças da minha paróquia uma educação melhor do que aquela que tiveram até a minha chegada. Nem os pedagogos saboianos que, durante o inverno, vinham ministrar algumas aulas de cálculo e de escrita, nem os que tinham o apoio hipócrita da Escola Normal puderam adequar-se ao nosso projeto.

A experiência que fizeram os meus predecessores e aquela que eu mesmo quis ter, acabaram por me convencer de que eu estava certo ao desconfiar do ensino que não seja ministrado por professores pertencentes a alguma corporação religiosa.

No final de 1833, chamei os vossos Irmãos, plenamente convicto de que somente eles alcançariam os objetivos que eu almejava. A escola teve, na minha paróquia, completo êxito. Alguns meses, apenas, foram suficientes para acabar com os preconceitos desfavoráveis de algumas pessoas; nada prova melhor todo o bem que eles fazem do que a presteza com que as famílias, não somente da minha paróquia, mas das paróquias vizinhas, lhes confiam os filhos.

A mobília foi fornecida, em grande parte, pela família do sr. Richard, que os ajuda de forma toda particular. A sra. Condessa de Vogué, o sr. Conde de Mont-Ravel e a sra. de Montivet, todos com propriedades na minha paróquia, fizeram questão de contribuir para tal fim. A contribuição deles, convencionada e assegurada, monta a 800 francos anuais e, até o presente, tem sido fielmente paga da seguinte maneira: 400 francos da contribuição dos alunos; 200 francos da prefeitura; o sr. conde de Vogué, o sr. conde de Mont-Ravel e o sr. Richard se comprometeram em dar, juntos, 200 francos, totalizando os 800 francos.

Quanto à moradia, a comuna a fornece e paga as despesas; entretanto as Damas da Providência, de Annonay, havendo-me cedido dos seus domínios em Péaugres um local para a casa e para a horta dos Irmãos, no decorrer do próximo ano espero poder executar o projeto que tenho de construir para eles uma casa conveniente e, assim, perpetuar-lhes a permanência na minha paróquia.

Tenho a honra de ser, com grande respeito, senhor, o vosso muito humilde servidor, BARTHELEMY ARTRU, pároco.

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Notas
Já informamos anteriormente as circunstâncias que possibilitaram ao Pe. Artru, pároco de Peaugres, solicitar e obter Irmãos para a sua escola (Carta nº 50). Apesar de que os Irmãos estivessem mal alojados, a escola teve grande sucesso, para satisfação de todos. No final do segundo ano escolar, o Pe. Artru enviou esta carta ao Pe. Champagnat, relatando os seus bons sentimentos em relação à escola. Talvez temesse a retirada dos Irmãos, depois das férias, pois era assim que o Fundador procedia, transferindo-os alhures, quando as cláusulas do contrato de uma nova escola não eram observadas, especialmente as que se referiam à moradia dos Irmãos; por isso, no texto, o pároco fala do seu projeto da nova casa para os Irmãos. Iniciada em 1836, ela ficou pronta somente em 1841. Encontraremos a conclusão deste tema mais adiante (Carta n° 198).

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AFM 129.15

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