Carta de Marcelino – 335: Monsieur Jean François Régis Peala, Curé de Tence

Senhor Pároco,

Tivemos ocasião de nos encontrar com o Superior do Seminário Maior do Puy e de lhe falar de seu estabelecimento. Ele nos disse que o município dava a entender que entraria com uma subvenção de 600 francos, mas que à parte esta quantia, o senhor não teria outros recursos senão através das contribuições mensais. Estou com muito receio que sua obra não terá muita base, se contar só com esses fundamentos. O município pode tornar-se menos favorável e não contribuir mais do que com os 200 francos exigidos por lei. O número de alunos pagantes pode cair sensivelmente e provocar deste modo um grande déficit na receita. Há outro aspecto: a experiência nos demonstrou que os estabelecimentos que se vêem reduzidos a esses únicos recursos desaparecem ou, no mínimo, se sustentam com muita dificuldade.

Além disso, como a população é numerosa, são necessários de saída quatro Irmãos; e como conseguir 1.000 francos com as contribuições dos alunos? Para que seu empreendimento iniciasse com solidez, seria preciso que, além dos 600 francos do município, o senhor conseguisse criar uma renda anual de mais 600, mediante a cooperação de pessoas remediadas e caridosas. Deste modo, o pagamento de três Irmãos estaria garantido e o senhor poderia ter duas classes de alunos gratuitos, coisa muito importante em qualquer localidade onde a população é numerosa. Seria fácil conseguir fundos para o sustento de um quarto Irmão, se houvesse uma terceira aula de alunos pagantes, filhos de pais remediados, e escolares de um nível mais elevado.

Não vejo como o estabelecimento poderia iniciar-se de outra maneira, com chances de dar certo.

Embora pequeno, o município de Saint-Julien de Molhesabate conseguiu criar uma renda de 1000 francos em favor de seus meninos pobres. Será que o de Tence vai recuar diante de 600 francos?

Há outra solução, talvez menos boa: O senhor poderia também criar uma situação semelhante à que existe em Craponne. Lá o município se comprometeu a assegurar a subsistência de quatro Irmãos e a cobrar dos alunos uma contribuição fixada em 75 cêntimos para os principiantes e em 1,25 francos para os outros. O Conselho Municipal assinou conosco um convênio que poderia servir para o seu município, com as modificações exigidas pelo costume e as necessidades da região.

Ficaria sentido se tivesse que voltar atrás da promessa que lhe fiz, mas o que mais desejo é que o senhor tome os meios de assegurar o êxito de sua obra. Seria triste começar para vê-la periclitar logo a seguir. É para prevenir um tal desgosto que lhe faço essas observações.

Tenho a honra…

Champagnat

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Notas

Na Carta de no 283, o Padre Champagnat tinha prometido mandar, sem falta, Irmãos para a escola de Tence, em novembro do ano de 1840. Numa entrevista com o Superior do Seminário Maior da diocese do Puy, mano do pároco Jean-François, ficou sabendo que a subvenção da municipalidade era insuficiente para garantir a subsistência dos Irmãos.

Com a experiência mais do que comprovada que tinha, o Padre Champagnat dá ao pároco o seu parecer sobre a situação e os expedientes que poderiam ser adotados para contorná-la.

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Daprès la minute, AFM, RCLA 1, pp. 181-182, nº 226

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