Senhor Pároco,
Aproveito dos primeiros momentos livres que tenho, depois do reinício das aulas, para lhe escrever a respeito de uns poucos empecilhos que nossos Irmãos encontram na escola de Mornant.
Espero que seu zelo pela boa instrução dos seus meninos, acrescido dos meios que sua inteligência saberá encontrar, fará que logo desapareçam.
1o) Nossos Irmãos sofrem muito da parte de vários jovens que não freqüentam nenhuma escola e por isso não têm medo de ser repreendidos e se misturam com os alunos dos Irmãos nas cerimônias. Proibi expressamente aos Irmãos todos de, durante a semana, se encarregarem da vigilância dos meninos que não freqüentam suas aulas. Acho tal vigilância inútil para os meninos que não reconhecem a autoridade, e perigosa para os Irmãos que, com isso, só levam injúrias, e até maus tratos.
Espero que o senhor partilhe do meu parecer e se disponha a tranqüilizá-los quanto a este senão.
2o) No ano passado, o Irmão Laurent se encarregou de comprar, às próprias custas, as recompensas dos meninos, na esperança de lhe ser reembolsada a quantia, mas isso ainda não aconteceu. É pouca coisa, digamos, mas o pagamento pouco dos Irmãos não lhes dá margem a abrir mão desse pouco.
3o) Os Irmãos que no ano passado todo trabalharam no estabelecimento de Mornant só receberam 900 francos. Faltam portanto 300. Com 1.200 francos que nosso prospecto exige, eles apenas conseguem sobreviver. Então, julgue por si próprio, senhor Pároco, a que estado ficam reduzidos com esse atraso! Como ninguém está obrigado ao impossível, eu me verei forçado a remover os Irmãos para outro lugar, se este atraso de pagamento do ano transcurso não for coberto e se não se pagar o salário completo deste ano.
Acredite, senhor Pároco, no meu desejo sincero de continuar a obra da instrução cristã dos meninos em sua exemplar paróquia. Mas, é preciso que ela nos seja possível. É o que espero pelo esforço de seu zelo e pela cooperação de seus bons habitantes.
Digne-se …
Champagnat
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Notas
As cartas do Padre Champagnat, conforme estamos vendo, são geralmente respostas a pedidos ou informações sobre o andamento dos acontecimentos. Mas, quando as circunstâncias exigem sua intervenção e que, por motivo de força maior, não pode comparecer pessoalmente, resta-lhe ditar normas por escrito. É o que faz no presente momento.
Depois de dirigir-se ao pároco, Champagnat faz ao prefeito a mesma reclamação, que diz respeito à falta de pagamento integral dos Irmãos. (Cf. Carta no 230)
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Dapres la minute, AFM, RCLA 1, pp. 113-114, nº 129