Carta de Marcelino – 194: Monsieur Jean-Baptiste-François Pompallier, vicaire apostolique dOcéanie

Paris, 27 de maio de 1838. Missões Estrangeiras, rue du Bac, 120

Senhor Vigário Apostólico,

É com grande prazer que, sem detença, aproveito um momento de folga para responder à sua amável missiva.

Estou em Paris, como o senhor vê, desde o dia 18 de janeiro, procurando conseguir para os Irmãos a autorização que ainda não obtive, mas que estou cada dia mais esperançoso de conseguir. Parece que tudo está em ordem, mas as formalidades nunca se encontram completamente satisfeitas. Quantas andanças dentro de Paris, quantas visitas! Difícil é fazer uma idéia de toda essa correria.

Foi de batina que realizei todas as minhas visitas, todas as viagens, sem nunca ter sofrido um insulto nem sequer me chamarem de jesuíta!.

Paris está o máximo de tranqüilidade; o comércio funciona mais ou menos bem. Na Capital há mais prática religiosa nas pessoas do que se imagina. O senhor bem pode imaginar como o tempo me custa a passar, afastado como estou das minhas ocupações. Mesmo com todo este transtorno que tenho em Paris, eu me sinto melhor de saúde do que em LHermitage.

O Padre Dubois fala muitas vezes do senhor. Poucos dias se passam sem que ele me diga: Não esqueça aquela missão.

Santo homem aquele! Seria preciso multiplicá-lo e fazê-lo viver muito tempo.

Nesse tempo, a França está mandando missionários para todos os países que precisam. Durante minha estada em Paris, vi partir seis do Seminário das Missões Estrangeiras; outros se estão preparando. Quantos motivos de edificação encontro nesta casa! A religião não morrerá tão cedo na França, ela possui ainda muita vitalidade. A obra da Propagação da Fé se desenvolve mais e mais cada dia.

O Padre Mioland foi nomeado bispo de Amiens; tomou posse ontem. Os Cartuxos nomearam novo superior, é pena que não me lembre do nome.

Continuamos a receber muitos noviços. Somos atualmente duzentos e vinte e cinco ou seis (Irmãos). Temos trinta e oito ou trinta e nove estabelecimentos e setenta pedidos. Sofremos um verdadeiro assédio por parte daqueles que querem conseguir Irmãos; empregam toda sorte de estratagemas para arrancá-los. Os que não gozam de alguma influência, servem-se de pessoas às quais não podemos recusar.

Estamos em vésperas de abrir uma nova casa mãe (noviciado). É possível que a estabeleçamos no Departamento do Var.

O Padre Matricon continua comigo, estou muito contente com ele. Faz-se estimar pelos Irmãos e sabe julgar com muito acerto. Tenho também o Padre Besson, que continua muito bom rapaz. O Irmão François é meu braço direito; governa a casa durante minha ausência como se eu estivesse presente. Todos o acatam sem resistências.

Maria mostra visivelmente sua proteção sobre l’Hermitage. Como tem força o santo nome de Maria! Quão felizes somos de nos termos ornamentado com ele! Há muito que não se falaria mais de nossa Sociedade sem este nome milagroso! Maria, está aí toda a riqueza (ressource) de nossa Sociedade.

Terminamos a Capela. Está muito bonita; nós a consideramos infinitamente cara a nosso coração, abençoada que foi por nosso primeiro missionário e primeiro bispo da Sociedade. A todos esses títulos espero que se acrescentará um terceiro, como consequência natural: o primeiro que.

O Padre Terraillon continua como pároco de Saint Chamond. Penso, contudo, que não vai parar lá por muito tempo.

O senhor Arcebispo manifesta mais do que nunca sua benevolência para conosco e da mesma maneira o bispo de Belley.

Neste ano, começamos o estabelecimento da Grange-Payre. Já começa a prosperar, tendo já matriculado um bom número de alunos. Maria, sim só Maria é nossa prosperidade; sem Maria não somos nada e com Maria temos tudo, porque Maria está sempre com seu adorável Filho ou no colo ou no coração. Como pode o senhor imaginar, é também por Maria que espero conseguir a autorização que estou pleiteando.

Seja feita a santa, a santíssima vontade de Deus! Ouço o senhor responder: Amém! Que todos os que acompanham V. Excia., a saber, Irmãos e Confrades respondam o mesmo, e que rezem por mim, que me recomendo às fervorosas orações deles, sobretudo às suas, Excia. Por minha parte, nunca subo ao santo altar, sem lembrar-me de nossa querida missão e dos que para ela são enviados. Continue mostrando-se o pai dos que lhe enviamos, do mesmo modo como procedeu com os primeiros.

Digne-se V. Excia. acolher meus protestos do meu sincero devotamento e de sentimentos verdadeiramente afetuosos com que, Ex.mo Vigário Apostólico, tenho a honra de ser, com respeito, seu servo muito humilde.

Champagnat

Estou de volta a l’Hermitage, sem ter chegado ao fim em Paris. O senhor Fulchiron que entrevistei logo ao chegar de Paris, me diz que meus papéis tinham finalmente saído dos escritórios da Universidade, para serem encaminhados ao conselho de Estado, com uma apostila favorável emanada do senhor Ministro.

Vamos fundar uma escola em Saint-Pol (Pas-de-Calais), foi-me pedido pelo Ministro. Parece que quereriam que fosse uma casa mãe (noviciado). Outra está sendo pedida para Montpellier e uma para o Departamento do Var, onde todos os gastos serão por conta dos peticionários.

Estamos sendo assediados pelos numerosos pedidos que todos os dias batem à nossa porta. Estou desejoso de encontrar quem me substitua.

Reze por mim, estou muito precisado de orações. Estou convencido de que suas orações são agradáveis ao bom Deus.

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Notas

No segundo domingo desta segunda viagem a Paris, o Padre Champagnat escreve demoradamente ao primeiro bispo missionário da Oceânia, Dom Pompallier.

São muitas as cartas que os dois amigos trocaram entre si. Tantas e tão variadas notícias da mãe-pátria interessam sumamente quem vive em outra civilização distante.

A parte final desta carta foi escrita em l’Hermitage, após o regresso de Paris, pelos meados de julho. Isto indica que era prolongada a espera de um navio que se destinasse às ilhas do Pacífico. As viagens eram raras, em razão dos meios de transporte e dos perigos a que se expunham os veleiros. É só lembrar-se de La Delphine que acabou como sucata em Valparaíso. Depois de aguardar durante meses, os missionários conseguiram embarcar em outro navio que os levou ao término da viagem, no Extremo Oriente.

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Daprès lexpédition autographe conservée à la maison provinciale des Frères Maristes de Sydney, dont une photocopie aux AFM, 113.13

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