1.ª versão
Senhor Padre e digníssimo coirmão,
Mando-lhe o prezado Irmão Louis-Marie, como você desejava. Queira Deus não me pedir contas do que estou fazendo: largo por assim dizer meus próprios filhos para ir em socorro de estranhos. Só lho deixarei por um mês ou dois. Por favor, não recuse devolvê-lo quando eu lho pedir de volta.
Guardo comigo o Irmão Jean-Louis e o Irmão Jean-Baptiste. O prezado Jean Louis Marie ficará com a direção geral da casa. Ao chegar, entrará em acordo com o Senhor para fazer o levantamento de toda a mobília e das provisões, tomará nota de todo o dinheiro que receber, entrará em entendimento com os pais, e depois entregará tudo ao senhor.
Com esta sistemática nós queremos manter uniformidade na Sociedade e não juntar dinheiro, persuadidos de que, se Deus está contente conosco, não nos deixará faltar nada.
Estamos certos de que o senhor vai aceitar nossos pontos de vista, pois pelo que dizem, o senhor tem sincera estima pela Sociedade.
Somos de parecer – e achamos isto importante – que o Irmão não se encarregue de nenhuma aula, mas que ponha a par de tudo o Irmão que o substituirá. Deste modo, seu afastamento não causará transtorno. A irmã não controlará os Irmãos nem a alimentação deles. Não deverá entrar na casa da comunidade. A lojinha ficará com os Irmãos, como já era.
Com relação aos noviços de que o senhor nos fala, vamos recebê-los, como já lhe disse, me parece.
No momento, temos cinco pedidos de novos estabelecimentos, com as despesas já acertadas definitivamente: um na diocese de Belley, outro na de Clermont; um na diocese de Puy, outro no Departamento de Ardèche e dois na diocese de Lião. Todos esses estabelecimentos, com exceção dos dois da diocese de Lião, nos mandarão muitos noviços.
O que faria o senhor no meu lugar? Miribel não nos respondeu nada. Posso assegurar-lhe de novo que sou de todas as dioceses do mundo e que a Igreja universal é o objeto da nossa Sociedade.
Os senhores bispos que desejarem empregar-nos nos encontrarão dispostos a realizarmos os maiores sacrifícios, seja de pessoas, seja de meios pecuniários, pois dizemos e continuaremos a dizer sempre, estribados na graça de Deus: Seja anátema todo membro da Sociedade que se apegar aos bens da terra!
Estou chateado por lhe ter causado incômodos. Eu já tenho que chega. Deus seja bendito!
Tenho a honra de estar a seu inteiro dispor nos sagrados Corações de Jesus e Maria.
P.S. Reze por mim.
Segunda versão da mesma carta
V.J.M.J.
Senhor Padre,
Nós lhe enviaremos por um ou dois meses o prezado Irmão Louis-Marie. O sacrifício é grande, queira Deus não me pedir contas do que estou fazendo.
Ficamos aqui com o Irmão Jean-Louis e Irmão Jean-Baptiste. Estamos enviando o Irmão Louis-Marie como Diretor. Urge colocar este estabelecimento no mesmo pé de organização que os demais.
Estamos muito de acordo que o Irmão combine com o senhor, acolha seus conselhos, pois estamos convencidos, pelo que ouvimos dizer, que o senhor tem estima pela Sociedade.
O Irmão Louis Marie fará com o Senhor o levantamento da mobília e das provisões. A irmã não controlará os Irmãos nem a alimentação deles; também não deve encarregar-se da venda de livros, papéis, numa palavra, da lojinha.
O Irmão Louis-Marie, de acordo com o senhor, tomará nota de todo o dinheiro que receber e depois lho remeterá, porque em tudo isso não é o dinheiro que queremos, mas que Deus esteja satisfeito conosco, e nada nos faltará.
Recebemos o jovem noviço que o senhor nos enviou. Receberei igualmente os demais de que me faz menção na carta.
Os Irmãos partirão para La Côte segunda feira e lhe dirão se nos sobra algum Irmão capacitado que nos permita pensar em novas fundações. Por ora não abriremos nenhuma casa mais que não esteja com as contas acertadas, pois continuamente nos estão oferecendo casas já com fontes de recursos permanentes.
Champagnat
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Notas
A carta anuncia a volta do Irmão Louis Marie para La Côte, e as providências que deverá tomar na escola.
Vai aqui também a transcrição do segundo rascunho de carta ao mesmo Padre Douillet. Contém expressões bastante duras, endereçadas a Douillet que se mostrava renitente com relação ao que o Padre Champagnat e os Irmãos de La Côte solicitavam dele. Dá para duvidar que o palavreado desta carta seja do próprio punho de Champagnat, sempre tão comedido nas suas palavras, ainda mais nos escritos.
Em todo caso, segundo o que diz o Irmão Avit, o Padre Champagnat foi quem assinou a segunda versão, na qual algumas expressões foram amenizadas. Será que o texto é de Champagnat?
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Daprès la minute, AFM, 113.8; éditée dans Vie du Frère Louis Marie, pp. 16-17, en partie dans AAA p. 158