Carta de Marcelino – 045: Monsieur Jean Cholleton, Vicaire général

1.ª versão

Senhor Vigário Geral,

Gostaria muito de me ter encontrado com o senhor por ocasião de sua passagem por Saint-Chamond, para ter uma resposta à minha carta. Reitero todas as ofertas que tive a honra de fazer em favor de meus coirmãos. Se vierem à Grange-Payre, deixar-lhes-ei todos os benefícios da propriedade, que somam 1500 francos, sem contar o usufruto da construção, na qual farei os primeiros consertos.

Vejo claramente que a obra dos sacerdotes vai afundar completamente em Valbenoite. Meu Deus, que quereis de mim? Não há sacrifício que não esteja disposto a fazer para salvar do naufrágio a obra de Maria. Asseguro-lhe que, mais do que nunca, acredito nesta obra, porém em outras condições do que aquelas em que se encontra. A ambição, a ganância de se enriquecer vai deitar tudo água abaixo.

Aqueles a quem Cristo Jesus todos os dias dá seu Corpo e Sangue receiam que não lhes dê aquilo que dá aos mais vis animais. Meu Deus, não permitais nunca que homens dessa natureza entrem na Sociedade de Maria!

Senhor Vigário Geral, não pretendo acusar nenhum de meus coirmãos; todos me edificaram muito quando fui feliz de os ter junto de mim. Quero tão somente censurar aqueles que lhes falam desse modo.

Reuna a nós todos numa casa, sob a dependência exclusiva do nosso digno Arcebispo e de um superior particular. Não nos obrigue a um ministério secular. Não nos separe como ocorreu no passado. Para termos um candidato, devíamos conquistá-lo na ponta da espada e, mesmo assim, não o podíamos manter senão com a condição que um de nós se fizesse coadjutor.

Que fiquem reunidos, sob a mesma Regra, os Padres Pompallier, Séon, Forest e Bourdin ou, no lugar dele, outro Padre de Belley; que não tenham outro ministério, por ora, a não ser pregar retiros ou pregar pequenas missões nos lugares do interior; verá então o senhor como as coisas tomarão outro rumo. Não nos faltará nada, nem pessoas nem coisas materiais. Quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum. Nossos irmãos têm todos a mesma linguagem que eu. Todos estariam dispostos a abandonar lHermitage aos Padres, se preciso fosse. Estão dispostos a assinar tudo quanto estou oferecendo para dar melhores condições aos Padres da Sociedade de Maria.

Em tudo isso seja feita a vontade de Deus!

2.ª versão

J.M.J.

Notre Dame de lHermitage, 8 de setembro de 1834.

Senhor Vigário Geral,

Gostaria muito de me ter encontrado com o senhor por ocasião de sua passagem por Saint-Chamond, para ter uma resposta à minha carta. Reitero todas as ofertas que tive a honra de fazer em favor de meus coirmãos, se vierem à Grange Payre. Ceder-lhes-ei todos os benefícios da propriedade, que somam mil e quinhentos francos e o usufruto da construção, na qual farei os primeiros consertos.

Vejo, sem sombra de dúvida, que a obra dos Padres em Valbenoite vai afundar completamente porque está começando errada. Não há sacrifícios que eu não esteja disposto a fazer para que meus confrades tenham êxito. A ambição, a ganância de possuir vai deitar tudo água abaixo. Deus me livre de acusar meus irmãos. Seu desapego, seu devotamento me edificaram sobremaneira durante o tempo em que fui honrado de os ter junto de mim. Quero tão somente censurar os que lhes falam desse modo.

Aqueles a quem Jesus Cristo, com tanta generosidade, cada dia, dá seu Corpo e Sangue poderiam temer que lhes negaria aquilo que dá direitinho aos mais vis animais?!

Meu Deus, não permitais nunca que homens dessa natureza entrem na Sociedade de Maria! Não pretendo com isso acusar a nenhum de meus coirmãos; todos me edificaram muito quando fui honrado de os ter junto a mim; quero tão somente censurar os que lhes falam desse modo.

Não peça nada ao Conselho do senhor Bispo (quero dizer, nenhum salário para nós), peço somente que nossos sacerdotes se reunam todos numa casa de retiro independente de qualquer ministério secular. Que fiquem ocupados com os exercícios adequados a seu estado (de religiosos), sob a direção do Padre Colin, o mais velho, se o senhor Bispo houver por bem no-lo conceder.

Em pouco tempo, senhor Vigário Geral, verá crescer o número de nossos Padres; a desunião é que tudo perdeu, a união vai tudo restabelecer. Disto resultará glória a Deus.

Prometo-lhe novamente que não deixarei faltar nada a meus confrades, nem que seja preciso entregar minha roupa do corpo. É com lágrimas nos olhos que o digo!

O senhor bem sabe, melhor do que eu: o peixe não pode viver muito tempo fora da água; só o retiro e a meditação das grandes verdades podem sustentar o espírito religioso.

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Notas

(Duas versões, uma depois da outra)

A data desta carta é relativa à segunda versão da mesma, na qual o Padre Champgnat detalha as vantagens da Grange-Payre e os inconvenientes de Valbenoite, a que se referiu antes.

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Daprès la minute autographe AFM, 132.1, pp. 41.43 et une lettre autographe, AFM, 113.5 éditée dans OM, I, doc. 323, pp. 724-728 et dans AAA, pp. 146-147

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