Dir-lhe-ei sem rodeios que tenho muito prazer em comunicar-me com o senhor. É com muita confiança que escrevo, para dar-lhe a conhecer meus aborrecimentos e expor com simplicidade minha situação.
Estou sozinho, o senhor bem sabe, e isto traz preocupação às pessoas que têm estima pela obra e a ajudam. Os de fora que geralmente falam sem conhecimento de causa, me acusam como primeiro culpado pelo afastamento do Padre Courveille e do Padre Terraillon. Todos esses contratempos me causam pesar, mas não surpresa. Já esperava e ainda espero por provações mais duras. Seja bendito o Santo Nome de Deus!
Continuo tendo a firme confiança de que Deus quer esta obra, mas, ai de mim! Talvez Ele queira outros homens para estabelecê-la. O triste incidente acontecido àquele que parecia ser o chefe constitui uma tramóia das mais terríveis que o inferno inventou para acabar com uma obra que previa destinada a causar-lhe dano.
Vai aqui em poucas palavras a minha posição. O senhor poderá agir de acordo com o que achar melhor para a maior glória de Deus. Estimo que até o fim de agosto seremos mais de oitenta, tendo em vista o contingente numeroso dos que pedem ingresso e o número elevado que já somos.
Lá pela Festa de Todos os Santos, teremos dezesseis estabelecimentos e eu teria necessidade absoluta de visitá-los, pelo menos cada dois ou três meses, para saber em que pé estão as coisas. Preciso saber também se algum Irmão não anda comprometido em relações perigosas, a fim de remediar desde o princípio; se o regulamento está sendo observado, se os alunos estão progredindo, sobretudo na piedade; também combinar com os párocos e os prefeitos a respeito do que nos deve ser pago. Numa palavra, para me certificar que os Irmãos não estão perdendo o espírito da vocação.
Nem lhe falo da contabilidade a manter, da correspondência a pôr em dia, das compras a fazer, das dívidas a pagar ou cobrar, de tudo aquilo que diz respeito aos interesses espirituais e materiais da casa.
Temos agora cerca de dois mil alunos em nossas escolas. Parece-me que isto merece alguma consideração. Todos estão de acordo que é de suma importância a formação da juventude. Portanto, importa que aqueles que estão trabalhando nesta excelente missão sejam formados e não fiquem relegados à própria sorte, uma vez enviados.
Esperando por um auxiliar apropriado, que tenha amor pela causa, que só exija a roupa e a comida, recomendo-me às suas orações, pois vejo mais do que nunca a verdade do oráculo divino: Nisi Dominus.
O Padre Séon seria muito bom para nós, por diversas razões. Seria alguém que não pediria nada, e até, segundo me disse, entregaria seu patrimônio estimado em vinte mil francos.
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Notas
Esta carta é para pedir mais um padre para lHermitage, e propõe que seja o Padre Étienne Séon.
De acordo com os pareceres do Arcebispo, era o Padre Barou, um dos Vigários Gerais, o encarregado de distribuir os cargos e funções dos eclesiásticos da Arquidiocese.
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Daprès lautographe AFM 132.2, p. 170-171; édité dans Vie, p. 231-232; OM, I, pp. 437-438; AAA pp. 74-75